Buraco negro

 

 

   Viver na Terra é exaustivo. São muitas dores, sentimentos ruins, decepções e frustrações pra lidar em uma vida tão curta. Eu posso afirmar com tranquilidade que esse foi de longe o pior ano da vida inteira nesse planeta, não só pela pandemia, mas por todo esse clima pesadissimo que vem afetando quase todo mundo. Minhas crises de ansiedade me pegaram de jeito, minha cara está cheia de espinhas, desconto minha tristeza na comida e já não me reconheço mais no corpo que habito. 

    Mas falando em frustrações, são elas que mais vieram à tona nesse ano em meu subconsciente. Foi em 2020 que eu percebi que presa dentro de um buraco negro, desde 2013, o ano em que eu tive a minha última grande conquista. Em 2013 entrei em uma universidade federal, e desde lá caí num limbo: nada de revelante ou grande acontece, por mais que eu tente, é como se eu estivesse aprisionada há sete anos. E eu não sei como sair desse buraco. 

   Sei que cada um tem uma vida diferente, um propósito diferente, mas é inevitável não olhar pro lado e perceber que minhas amigas do ensino médio por exemplo, tem família construída, filhos, um emprego estável e uma vida medíocre como qualquer ser humano na Terra, e eu continuo aqui, dentro do buraco negro que me aprisiona sem nenhuma perspectiva de me soltar.

   É muito difícil conviver com isso, com comparações entre fulano x cicrano, principalmente quando você é presionada pela familia pra se estabilizar, pra ter um relacionamento sólido, pra ter um carro, uma casa... mas é pior ainda quando essa cobrança vem de dentro de você. Eu fico me perguntando em que momento eu errei? Qual foi a decisão errada que tomei pra mudar o curso da minha vida e cair nesse buraco negro. Eu tento, tento, e não consigo compreender quando foi que isso aconteceu, mesmo minha intuição dizendo exatamente COMO e QUANDO foi que eu caí. 

   Não sei o que será de mim daqui pra frente, se um dia eu vou sair desse buraco, se eu vou conseguir realizar pelo menos metade do meus sonhos. Se todo esse tempo em que eu estive presa nesse buraco vai valer de algo no futuro. Enquanto isso eu continuo aqui, com o peito apertado, com vergonha do rumo que minha vida tomou e aprisionada nessa grande escuridão do cosmo.